Medicamentos são encontrados no lixo em Piacatu


Desperdício se repete mesmo com campanha de devolução de remédios em desuso e vencidos

22/04/2010 15:40 - Atualizado em 04/12/2021 19:31 | Por: Otávio Manhani

Otávio Manhani/Jornal Comunicativo

Cartelas e frascos de remédios encontrados no lixo

Funcionários públicos de Piacatu que realizam diariamente a coleta do lixo acharam várias cartelas de remédios junto do lixo doméstico. Os medicamentos foram encontrados em uma casa de número ímpar na Rua Antonio Rodrighero, no início deste mês.

Da quantidade descartada, os servidores municipais conseguiram recolher em meio ao lixo 22 cartelas de comprimidos e dois frascos. Entre as cartelas, uma está vencida e outra sem data de validade, enquanto que outras 19 apresentam prazo de validade entre junho deste ano e agosto de 2011.

Com relação aos dois frascos encontrados, um deles está vencido desde fevereiro deste ano e o outro apresenta vencimento apenas em maio de 2012. Entre os remédios jogados no lixo, só uma cartela de dipirona não faz parte da distribuição gratuita feita pela farmácia do Centro de Saúde.

Em maio do ano passado, o Comunicativo divulgou que o município faz campanha para recolher medicamentos vencidos ou aqueles inutilizados pelos usuários. Ainda em 2009, no mês de julho, o Comunicativo denunciou que, mesmo com a campanha, alguns moradores preferiram descartar os remédios lixo ao invés de dar o destino correto aos mesmos.

A secretária da Saúde de Piacatu, Karina Cristina Gambera, disse estar perplexa com o descarte destes medicamentos e informou que ao jogar remédios no lixo que podem ser reaproveitados por outros usuários, a pessoa está jogando dinheiro no lixo.

“Você sabe quanto custa 30 unidades de paroxetina [antidepressivo]? Custa R$ 80. Neste caso, a pessoa descartou três cartelas deste remédio com 20 comprimidos cada, ou seja, ela jogou R$ 160 no lixo. E isso só de um tipo!”, desabafa.

DESPERDÍCIO DE 20%

Aproximadamente R$ 1 bilhão gastos com medicamentos são desperdiçados anualmente no Brasil pelos governos federal, estadual e municipal. Esta quantia, segundo o Conselho Federal de Farmácia, representa em média 20% dos remédios comprados no varejo pelo poder público e pelos hospitais privados.

De acordo com o Conselho, os consumidores também contribuem bastante com o desperdício. O órgão avalia que, por ano, uma família de classe média com quatro pessoas joga fora em torno de R$ 60 em medicamentos vencidos.

Conforme dados do levantamento, há outros problemas relacionados à ineficiência da gestão farmacêutica, entre eles o alto índice de intoxicação, o uso irracional de medicamentos e a não adesão de pacientes aos tratamentos.

O Ministério da Saúde informou que, embora a maior parte dos recursos para aquisição de medicamentos distribuídos gratuitamente pelo SUS parta de seus bolsos, não é possível controlar se os produtos chegam aos pacientes.

O monitoramento do governo federal, segundo o ministério, acontece apenas na execução do dinheiro encaminhado, para que Estados e municípios adquiram os remédios.

AUTOMEDICAÇÃO

Pouco mais de 30% dos casos de intoxicação registrados no Brasil em 2007 foram causados por uso inadequado de remédios, como superdosagem e automedicação. No mesmo ano, segundo dados da Fiocruz, 34.068 pessoas apresentaram intoxicação medicamentosa.

Com o intuito de evitar tragédias deste tipo, a Secretaria municipal da Saúde de Piacatu implantou em setembro de 2007 uma campanha que visa recolher medicamentos vencidos e aqueles em desuso.

Para isso, durante as visitas de rotina, as agentes comunitárias de saúde aproveitam para explicar sobre os perigos em ingerir remédios errados ou vencidos e, inclusive, aproveitam para recolhê-los.

Mesmo assim, três meses depois da implantação da campanha, em dezembro, uma jovem de 21 anos que cursava técnico de enfermagem ingeriu grande quantidade de medicamento, que resultou em sua morte.

De acordo com Karina, a informação que ela teve foi de que os remédios ingeridos pela jovem eram de uso da mãe da moça. A secretária da Saúde aproveita a oportunidade para reforçar o pedido de não deixar medicamentos em lugares de fácil acesso, principalmente quando há crianças em casa.