Meu filho nunca foi um assassino, diz mãe de Jabá, morto em confronto


Familiares de Jabá dizem estar revoltados com a divulgação ilegal de fotos na internet do rapaz morto

30/01/2010 16:55 - Atualizado em 21/02/2023 18:23 | Por: Otávio Manhani

Otávio Manhani/Jornal Comunicativo

Aparecida com o atestado de óbito do filho Aelson

A dona-de-casa Aparecida Pereira Correia, 44 anos, mãe de Aelson Flávio Correia Ferreira, o Jabá, 23 anos, morto no último dia 21 em Santópolis do Aguapeí durante ação policial, procurou o Comunicativo para esclarecer e contestar alguns pontos com relação ao conteúdo da reportagem publicada na edição anterior.

Com um documento em mãos, datado em 8 de novembro de 2004 e assinado pelo promotor de Justiça de Bilac, Álvaro Roberto Ruas Teixeira, Aparecida informou que seu filho Jabá não foi o autor do disparo que matou o aposentado Roque Brambila, 74 anos, na zona rural de Piacatu, em agosto de 2004, conforme divulgado neste veículo e pela imprensa regional.

Segundo mostra o documento, o autor do disparo teria sido Tiago Anastácio de Souza, o Cabeça de Gato, que, na companhia de Jabá e outros dois homens, cometeram o crime na época. Embora reconheça que seu filho era um foragido da Justiça, ela afirma que o rapaz não cometeu tal homicídio. “Meu filho nunca foi um assassino, mas foi vítima de um assassinato”, desabafou a mãe de Jabá.

SEMPRE O CULPADO

“Tudo que acontecia em Santópolis do Aguapeí e na região, meu filho era o principal suspeito”, acrescentou a dona-de-casa. “O engraçado é que na noite do velório dele aconteceram dois furtos na cidade e, de lá para cá, vários roubos e furtos vêm acontecendo no município. E agora! Vão dizer que foi meu filho também?”, questionou.

Insatisfeita com as justificativas da polícia referente a ação que causou a morte de seu filho, Aparecida protocolou uma denúncia de abuso de autoridade no 2º Batalhão da Polícia Militar, em Araçatuba, que deve apurar a acusação.

FOTOS NA INTERNET

A mãe de Jabá também disse ter ficado “muito chateada” e considera “uma falta de respeito” alguém ter divulgado as fotos de seu filho morto na internet. As imagens que circulam por e-mail, segundo a dona-de-casa, incluem depoimentos irônicos e deboche de seu filho, como: “Agora é só salgar e pôr no sol”, referindo-se ao apelido de Aelson, que é Jabá.

Embora não saiba a pessoa que propagou tais fotos, ela disse que as mesmas foram tiradas enquanto o corpo de seu filho estava em uma das salas do Centro de Saúde local, aguardando para ser liberado para o IML (Instituto Médico Legal), o qual posteriormente constatou que Jabá morreu de hemorragia interna e externa aguda e uma parada cardiorrespiratória.

Diante dos fatos, a mãe de Jabá registrou um boletim de ocorrência na Polícia Civil de vilipêndio (ato de desprezar, ultrajar, insultar ou difamar o cadáver ou suas cinzas) e entrou com uma ação judicial contra o Centro de Saúde de Santópolis do Aguapeí, local onde as imagens foram feitas.

A secretária municipal da Saúde, Juliana Cristal Pio Barros, informou que por enquanto não se manifestará sobre o assunto porque ainda não tem conhecimento do conteúdo judicial.

OUTROS DETALHES

Aparecida ainda disse ter achado “muito estranho” o fato de o filho ter sido baleado com quatro tiros por volta das 15h30 e no Centro de Saúde constar que sua entrada ocorreu quase uma hora depois, por volta das 16h30. “Quem socorreu ele [Jabá] foram os próprios policiais. Acho que o socorro demorou muito”, acrescentou.

Ela ainda comentou que no momento em que foi dada entrada de seu filho no Centro de Saúde, ninguém da família teve acesso ao corpo, pois o mesmo estava sendo preservado pela PM.

Segundo a mãe de Jabá, familiares do rapaz afirmam terem visto uma das viaturas irem em direção a rodovia ao invés de ir ao Centro de Saúde, que fica próximo ao local onde aconteceu o episódio. Para a família, os policiais demoraram no socorro do rapaz.

A dona-de-casa disse ter passado tais informações ao comandante da Polícia Militar de Araçatuba. Conforme informou o tenente-coronel Paulo Arcanjo da Cruz, comandante do 2º Batalhão, a denúncia deverá ser apurada.

Com relação a Nicanor Rodrigues Carvalho, 37 anos, citado como tio de Jabá e que foi preso pela polícia porque também era procurado pela Justiça, Aparecida esclareceu que o homem não possui qualquer tipo de parentesco com seu filho. “Ele [Nicanor] apenas teve um relacionamento com minha irmã há algum tempo, mas nunca foi casado com ela”, explicou.

A mãe de Jabá também disse que seu filho não estava foragido da penitenciária de Pacaembu (SP), como dito na reportagem, mas, sim, do regime semiaberto do CPP (Centro de Progressão Penitenciária) de Valparaíso (SP).

Sobre as armas encontradas com Jabá após ter sido baleado, Aparecida disse que, naquele dia, a informação que ela obteve foi que seu filho portava apenas um revólver contendo quatro munições.

Na edição anterior, conforme consta no boletim de ocorrência, foi divulgado que após o tiroteio, Jabá foi encontrado morto no corredor da sala portando um revólver calibre 32 com munição no bolso de sua bermuda e, ao seu lado, um revólver calibre 38 que foi utilizado no disparo contra os policiais militares.