Não sei se a ocasião é para parabéns ou para pêsames, indaga promotor de Justiça


Frase foi dita em Bilac durante diplomação dos políticos eleitos em Bilac, Gabriel Monteiro e Piacatu

18/12/2016 10:32 - Atualizado em 31/12/2016 19:54 | Por: Otávio Manhani

Otávio Manhani/Jornal Comunicativo

Promotor Álvaro e os juízes eleitorais João Batagelo (Bilac) e Adriano

Não sei se a ocasião é para parabéns ou para pêsames. Foi com esta frase que o promotor de Justiça da Comarca de Bilac, Álvaro Roberto Ruas Teixeira, encerrou seu discurso durante a diplomação dos prefeitos, vice-prefeitos e vereadores eleitos.

A diplomação aconteceu na manhã do dia 16 deste mês no Centro Cultural Educacional Prof. João Chaim Rezeke Filho, em Bilac. Também participou da diplomação o juiz eleitoral de Bilac, João Alexandre Sanches Batagelo, e o juiz eleitoral de Birigui, Adriano Pinto de Oliveira.

A indagação feita pelo promotor de Justiça ao final de seu discurso foi em referência ao que ele disse durante sua fala, onde mencionou os desafios a serem enfrentados pelos políticos eleitos - em especial aos prefeitos - com relação à crise financeira que o Brasil enfrenta.

“Nós vivemos, segundo a mídia e uma própria constatação diária, uma crise sem precedentes. E cada crise tem elementos diferenciadores. Também não é muita novidade o Brasil estar em crise, pois, ao que me lembre desde que me entendo por gente, eu ouço esta frase. E a gente tem sobrevivido”, disse Teixeira logo no início de sua fala.

Para o promotor de Justiça, os componentes diferenciadores desta atual crise é que ela envolve valores mais profundos e chega a arranhar as próprias instituições, além de gerar descrédito e desesperança do povo. Mas, ao mesmo tempo, ele frisou que a vontade de mudança por parte da sociedade está cada vez mais forte.

Teixeira também citou as manifestações nas ruas e redes sociais e disse considerar tais ações positivas. “Isso impõe aos agentes públicos e políticos muita reflexão e muita atitude. Me parece que está claro que os integrantes destas instituições estão bastante desacreditados. Isso vai exigir dos novos governantes um esforço redobrado para demonstrar que eles estão ali para fazer alguma coisa séria e para mudar o rumo desta história”, avaliou.

“É necessário que os atuais diplomados e, em breve empossados, dirijam atenção maior para algumas realidades que são nuas e cruas. Mais que assumir um cargo, deverão assumir um encargo. Mais que esperar as glórias e os bônus, devemos encarar os ônus que o cargo estará trazendo”, acrescentou o promotor de Justiça.

Descamação

Teixeira comparou o atual cenário político nacional com uma descamação. “Parece-me que estamos vivendo em nossa sociedade um momento de descamação. E esta descamação ela pode ter um lado positivo como um lado negativo. Se fôssemos fazer um paralelo com os organismos vivos, tanto animais quanto vegetais, a descamação pode representar uma coisa boa ou ruim”, opinou.

De acordo com o promotor de Justiça, para que uma pele nova nasça por cima da pele velha ou queimada ou morta, é necessário que essa pele seja descamada. “A descamação, então, pode ser um momento de esperança. Mas, às vezes, quando a pele se descama, pode ser porque o organismo não está conseguindo mais interagir”, explicou.

E sugeriu: “Cabe a cada um de nós, representantes dos três poderes, perceber que este é o momento de uma virada ética, moral, cívica e patriótica. Que nós transformemos este momento conturbado, de escamação, em um momento de superação, um momento de encarar novos tempos”.

Sem reclamação

Em seu discurso, o juiz eleitoral de Bilac disse aos políticos eleitos que não adianta reclamar do atual cenário político, pois, todos que estiveram na diplomação quiseram participar do pleito, venceram e comemoraram. “É preciso agir com muita responsabilidade quando se participa de um pleito”, afirmou.

“Às vezes, as pessoas encaram isso [a eleição] como uma disputa pessoal, ou ideológica, ou como uma disputa de time de futebol. Só que, neste caso, tem toda aquela responsabilidade a partir de 1º de janeiro. E aí ninguém vai poder se dizer desavisado das funções dos municípios”, adiantou o juiz eleitoral.

“Cada um fez a sua proposta [durante a campanha eleitoral] e todos [os candidatos] tinham uma solução para todos os problemas das três cidades [Bilac, Gabriel Monteiro e Piacatu]. Agora, vamos ver se essas soluções se encaminharão. Boa sorte aos eleitos e muita responsabilidade nesses tempos conturbados”, finalizou Batagelo.

Sistemas de controle estão mais eficazes, frisa Teixeira

Durante discurso da diplomação dos políticos eleitos, o promotor de Justiça lembrou aos futuros gestores e legisladores que os tempos são outros.

De acordo com Teixeira, os sistemas de controle, fiscalização e punição estão se modernizando, se aperfeiçoando. “Por isso, as antigas práticas talvez não possam mais ser utilizadas. Que a sociedade como um todo está exigindo cada vez mais honestidade, transparência, seriedade, austeridade no trato com a coisa pública”, adiantou.

“Nós estamos acompanhando pela mídia nacional que até aqueles que eram intangíveis estão sendo tangenciados”, referindo-se, inclusive, a ex-presidentes da República. “Aqueles que não eram pegos estão sendo punidos. As coisas erradas que se fazia nos bastidores e por debaixo do pano estão sendo descobertas, apuradas e seus responsáveis punidos”, frisou o promotor.

Errar com o que é de todos é um erro muito maior e mais grave, avisa promotor

O promotor de Justiça da Comarca de Bilac reforçou em seu discurso durante a diplomação dos políticos eleitos na eleição deste ano que “errar com o que é dos outros [com o que é público] é um erro muito maior e mais grave”.

Teixeira disse que mesmo diante de um país em dificuldades financeiras e políticas, que espera que o Brasil consiga num futuro próximo que ele reviva e renasça revigorado com seus valores essenciais. Ele também recomendou aos administradores novatos e veteranos que eles repensem suas atitudes, posturas e seus atos.

“Que não precisem, necessariamente, repetir tudo o que já fizeram no passado. Que só repitam aquilo que deu certo e foi positivo. Os erros, os tropeços, os enganos e, até mesmo, em alguns casos, aquilo que se foi feito com má intenção, que não sejam repetidos”, cutucou o promotor de Justiça.

E acrescentou: “Até porque, volto a insistir, os sistemas de controle, fiscalização e punição estão cada vez mais eficazes. Não para nós [da Justiça], porque não temos aqui nenhum tipo de prazer em ficar punindo ninguém. Mas, sim, por bem da própria sociedade, da própria nação e das nossas futuras gerações, as quais conseguirão ver na prática, refletindo no dia-a-dia, aqueles valores que são básicos e essenciais”.

De acordo com Teixeira, os valores citados são da seriedade, da transparência, da honradez, do equilíbrio, da ponderação, da austeridade, de se levar a sério a coisa pública. “Porque como o próprio nome diz, a coisa pública é de todos. E errar com o que é de todos é um erro muito maior e mais grave, porque as consequências são coletivas”, completou.

E concluiu: “Que todos nós coloquemos, sempre acima de qualquer interesse particular, o interesse público. É esse o interesse que o agente público precisa preservar. Boa sorte e que Deus proteja a todos”.