Sem-terra arrendam área rural para acampamento


Integrantes do MST dizem estar indignados por terem que ter deixado seus barracos “como se fossem bandidos”

23/03/2010 16:25 - Atualizado em 24/04/2014 16:30 | Por: Otávio Manhani

Otávio Manhani/Jornal Comunicativo

Integrantes do MST de Piacatu desmontando barraca no sítio São João

Tudo indica que esta é a primeira vez na história do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra) em que seus dissidentes pagam para ficarem acampados. A decisão do grupo de Piacatu chamou a atenção da mídia e foi notícia na imprensa nacional.

Conforme informou o coordenador regional do MST, Luciano de Lima, a ideia surgiu após os acampados terem recebido um documento de reintegração de posse emitido pelo Tribunal de Justiça de Bilac proibindo acampamentos nas estradas pertencentes à Comarca.

Na ocasião, os integrantes estavam acampados às margens da fazenda Hortelã, há seis quilômetros do município, considerada de interesse para a reforma agrária.

Com a decisão judicial, que inclusive propôs multa de R$ 10 mil diários caso o grupo não deixasse o local até o prazo estipulado, um dos integrantes do MST disse ao grupo ter viabilizado uma propriedade rural para que os dissidentes montassem seus barracos em uma área particular.

Dias depois de terem refeito seus barracos em uma área de 15 hectares, localizada no bairro rural Cassimiro, os acampados tiveram outra surpresa. Desta vez, a pedido da proprietária do imóvel, a Justiça novamente ordenou a saída dos barracos.

No documento, o juiz de Direito mandou os integrantes desocuparem a área em 48 horas, sob pena de R$ 5 mil ao dia excedente a data estipulada e, ainda, que mantenham distância mínima de cinco quilômetros do sítio São João, local onde estavam acampados.

Acatando a decisão judicial pela segunda vez, os dissidentes deixaram o imóvel no bairro Cassimiro e montaram seus barracos no sítio Nossa Senhora de Fátima, no bairro rural Bela Vista, há quase dois quilômetros da cidade.

Em nota ao Comunicativo, o grupo do MST de Piacatu diz estar indignado por ter que deixar novamente seus barracos “como se fossem bandidos ou assassinos pela nata social”.

No documento, os integrantes dizem ser vítimas de exclusão social, pois, “as pessoas que estão no movimento, a maioria é chefe de família e desempregados” e que no acampamento há duas famílias que foram despejadas por não terem cumprido com seus compromissos mensais”, como água, energia elétrica e aluguel.

“O movimento acolheu [as duas famílias], fez o barraco e deu cestas básicas. Esse movimento tem nome a zelar e o compromisso de dividir a marmita com quem não tem o que comer”, continua a nota.

O documento segue dizendo que “homens e mulheres [do MST] foram chamados na porta da prefeitura de vagabundos” por uma pessoa no dia da manifestação, em 1º de março. A pessoa não era funcionária da prefeitura.

Em nota, o movimento repudia tal atitude e a classificam como discriminação.